quinta-feira, 2 de maio de 2024

Teletransporte

Contemplo o vazio em fuga alucinada, impensada. Não há direção alguma exceto o vazio de sensação, o nada perceptivo. Ao redor, são as tralhas, o caos, e perto de mim, e dentro de mim, a perseguição e a culpa. Aprendi a correr rápido demais, a desaparecer num piscar de olhos. Posso sentir a presença do perseguidor, mas tenho esperança de que ele não me encontre onde eu tento não estar.
O cérebro me presenteia com uma dupla sensação de leveza e imobilidade. Sob uma perspectiva, o peso do corpo diminui quando ele não é habitado. Em termos relativos, porém, o seu peso é infinito. A energia para movê-lo tende (mas nunca chega) a zero.
O processo se completa através do sono amnésico, muitas vezes literal. É a evitação experiencial perfeita (mas não quero me gabar). A sensação de reboot ao acordar é o verdadeiro milagre dessa fuga. As cognições que me levaram até ali não existem mais enquanto comportamentos. A estrutura está toda ali (o perseguidor, a tralha, o caos), mas nada disso foi executado ainda. Uma oportunidade para clicar duas vezes em "Resolução de Problemas.exe", eventualmente disparando também alguns cavalos de troia e chegando (espetacularmente) ao mesmo lugar de antes. Como somos da geração 1990, é lícito que simplesmente rebootemos de novo. Próximos passos seriam assoprar a fita, ou limpar o CD com um pouco de álcool.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Devaneio da vida

Somos a anomalia da matéria e devaneio da vida. Olhamos para dentro de nós. Nossas previsões se ligam inexoravelmente ao passado. Todo futuro é uma projeção com o objetivo de controlar a repetição. Quando a repetição é incontrolável, abrimos mão do futuro. 

Mas sempre é possível fazer outra coisa. Sempre e possível controlar um pouco. Não Desistir.



sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Ódio de si mesma, culpada de existência, Lilá das anarquias

Uma esperança pode viver como uma borboleta e morrer como inseto sem contradição. 

Toda vez que volto aqui, é o pesadelo que retorna, é o mal-estar generalizado.

São as crises.


Mas culpada de existência, por essa eu não esperava

Cuidado que tive

Tentando ser somente Lilá das anarquias, Lobo engolido há muito tempo

Lobo digerido e cagado

Lobo no inferno

Culpado de existência.

 

Mas morrer e ir pro inferno

Isso sim é uma contradição

E quando o inferno é objetivo

Ninguém, ninguém, ninguém duvida

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

    Ansiosa, depois de tanto tempo, depois de ter descoberto tanto sobre mim mesma. Esse é o destino de Lilá, a desiludida. De volta ao velho e infame pedaço de terras virtuais, tentando lidar com a angústia. Angústia que agora carrego como minha, lobo que engoli, unhas que rasgam ainda a minha garganta.

    Volto e admite-se identação nos parágrafos.

    Im-

    Pressionante

    Um jeito engraçado de dizer que agora vivemos sem espaço-espaço-espaço. 

    Crescida e tentando ainda ser adulta, sentindo-me uma fraude, à margem ainda de Alba, a motoqueira. Sentindo-me muito mais Alziro, o carona. Mas o Ziro tinha as suas belezas, é preciso admitir, assim como eu acredito ter as minhas.

   Eu adiciono automaticamente, sem querer, espaço-espaço-espaço.

   É mesmo um jeito engraçado de dizer o que faço neste pedaço.

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Livre

Apenas para registrar, porque finalmente:

Definir o que é o amor é uma questão menos relevante do que definir critérios pragmáticos de investimento afetivo...

"amar ou não amar", nem tanto, mas "passo atrás ou passo a frente", isso sim.

Amar... depois de tanto tempo e vivendo entre vocês, que falam aos poucos a verdade... Amar não é muito mais do que "sentir falta", "sofrer" ou "iludir-se", vocês mesmas/os é que disseram, dizem o tempo todo.
Como que num rastro do aval ontológico para a união heterossexual.
Nessa mesma esperança cósmica, um carimbo secreto de Deus ou algum vestígio de Seu toque, no canto da página, em qualquer lugar. Algo que diga que uma pessoa completa a outra, ou pode completar por algum tempo, ou que existe um sentimento programado para dar certo, rodeado por Desvios, Patologias do Espírito, etc., etc. que apenas complicam nossa jornada.

Não existe isso, exceto onde isso foi criado para dar sentido a uma decisão para a qual não houvesse volta¹.

Pecado é pensar que, cada vez mais, tem volta.

É só "deslizar".

1: Ou, ainda, outras novelas, é óbvio. Infinitas possibilidades. Mas, entenda-se, não existe "isso". Existem essas coisas, chamadas "amor" para construir belos sonhos.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Dîn

Diluído, descentrado, tão vasto,
quanto te dizem, estás sempre ao lado,
(Do lado errado)
Não,
quero dizer,
onde te querem.

Estás fora do fora, por isso em todas essas partículas, és tu mesmo,
Contingente como és.

Batata, quando digo e não é um tubérculo,
"Batata como és tu mesmo"
Batata de ser mesmo isso que eu disse que era mesmo
"Batata que és".

Longe como estás, frio às vezes e te busco,
Desenho-te na areia,
Traço tosco da forma que não tens
Da tua presença que, sem traço,
não me abandona, e te dou
presente que estás,
presente que és
meu
para os outros

Com quem te recusas a permanecer,
Doença vil que és,
Porque não ficas e porque
Eu não te entendo.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

   As coisas têm evoluído de maneira que... bem...

   Algum resultado na reconfiguração dos meus sentimentos eu obtive pela insistência da análise. A saber, talvez a insistência sobre uma síntese (no sentido Kantiano de juízo sintético) a respeito do meu apego à Koshka, que o situa como um engano pelo qual eu tenho responsabilidade parcial. Pelo que desisti de me enganar (supor que Koshka pudesse ser Φ -- uma espécie de complemento de tudo o que me falta), mas não preciso desistir de gozar daquilo que me é oferecido com tanta gentileza e carinho (ou seja, de a, alguém que materializa parte disso que me excede).

   No meu desamor, talvez uma dificuldade de enxergar adequadamente essa exceção... ou talvez porque o outro não se coloque nessa posição (e não é possível, nem a mim e nem a esse outro, ter certeza -- e, na verdade, nem a ninguém, resguardadas as proporções). Talvez alguma coisa possa ser feita a esse respeito... talvez, se uma parte de imaginário faz parecer que não há Outro nesse outro, esse imaginário possa ser substituído...? Talvez seja preciso que alguma coisa venha desde o outro lado (A)... posso acreditar que tenho algo a fazer aqui sem me enganar para além do que já estou enganado? Talvez seja mesmo me questionar, por enquanto, sobre o que seja isso que me impede de gozar dessa maneira sublime que é o contato com o segredo de uma Outra sensibilidade (e isso me faz imaginar ao menos uma situação em que, na verdade, isso é mentira - quero dizer, o juízo sobre esse "impedimento" não vale).

    Sinto que ainda há uma espécie de deslizamento para "Φ Koshka", como se as imagens atuais de outras situações de carinho escorressem para lembranças desse objeto. É um processo metafórico, no sentido que parece impedir minha metonímia de seguir seu caminho ao redor desse buraco que é o desejo (-Φ).